Deus me Lives! A infoxicação provocada pelo confinamento já é realidade.
O consumo desenfreado de conteúdo tem estressado mais do que relaxado quem está isolado, como mostram os dados levantados pelo Podcast Caos Corporativo.
MARC TAWIL*
28 ABR 2020 – 08H00 ATUALIZADO EM 28 ABR 2020 – 08H12
Lives são grandes oportunidades de compartilhamento de conhecimento e podem tornar conhecidos os especialistas que as conduzem. Quando saem dos trilhos, ou da trilha, porém, correm o risco de se tornar enfadonhas, desnecessárias e tremendos desperdícios de tempo para quem as assiste.
Dados da pesquisa “Deus me Lives: intoxicação na Quarentena” cedidos com exclusividade à coluna Futuro do Trabalho pelo Podcast Caos Corporativo dão um panorama da “infoxicação” que temos vivido desde março, quando se deu o início do confinamento provocado pela pandemia do novo coronavírus.
A “Infoxicação” (termo criado pelo físico espanhol Alfons Cornellá, em 1996, para designar “o excesso informação não totalmente digerido e que, por este motivo, pode causar dispersão, ansiedade e estresse”) vem sendo tão ou mais contagiosa do que o vírus: apenas 7,2% dos entrevistados não participaram de alguma live, webinar ou curso online oferecido nesse período.
De acordo com a pesquisa, 12% dos respondentes se queixaram da “falta de preparo dos speakers”, enquanto 17,3% reclamaram da “falta de interatividade e da condição técnica inadequada”.
A grande reclamação (40,4%), contudo, ficou com o “conteúdo puramente comercial”, aquele com objetivo de venda.
Sobre a pandemia, 80,3% dos entrevistados disseram se sentir “muito ansiosos” ou “ansiosos” em algum momento por se deparar com uma nova realidade; e 76% dos entrevistados assumiram que “se sentem na obrigação de aproveitar o tempo ao máximo”; apenas 15,4% disseram estar “aproveitando o momento para desacelerar”.
Frustração que também aparece quando a pergunta diz respeito aos conteúdos das lives, cursos e webinars que vêm sendo disponibilizados nas últimas semanas. Para 42,3% dos entrevistados, os conteúdos “são irrelevantes, repetitivos e sem profundidade”; 38% “não aguentam mais as lives” e acham que “as empresas só querem aproveitar o momento para se promover e caçar leads”.
Realmente, as empresas precisam ter essa precaução, me conta Amanda Costa, CKO (Chief Kindness Officer) do Caos Corporativo: “Se forem oferecer um produto online gratuito, isso deve ser feito com critério para que o conteúdo aberto demonstre a mesma qualidade que seria apresentada se fosse um material pago. Oferecer qualquer coisa para caçar leads é tiro no pé”.
Segundo a pesquisa, procuraram conteúdos técnicos relacionados a sua área de atuação 35,1% dos entrevistados; 24,5% buscaram temas relacionados a inteligência emocional, resiliência e adaptabilidade; por fim, 21,6% participaram de lives e cursos sobre liderança, inovação ou tecnologia.
“Uma dica é que a pessoa busque as lives, em vez de esperar que as lives busquem por ela. Pesquisar nos institutos de referência os temas com os quais simpatiza e sobre os quais gostaria de aprofundar seus conhecimentos é bastante válido”, me indica Alberto Roitman, CCO (Chief Chaotic Officer) Podcast Caos Corporativo.
Pergunto a Anderson Bars, (CIO) Chief Insight Officer do Podcast Caos Corporativo, sobre a importância de se posicionar nessa época de pandemia: “Por mais bem-intencionada que a empresa seja para contribuir na disseminação de informação ou desenvolvimento de pessoas, há uma grande chance de que ela seja má interpretada e passe sensação de estar se aproveitando de um momento crítico para obter vantagem”.
A pesquisa qualitativa foi realizada junto a 308 profissionais de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Paraná, Espírito Santo, Santa Catarina e Ceará.
Inteligência emocional
As constatações da pesquisa aqui mencionada vão ao encontro das preocupações da Organização Mundial da Saúde (OMS), que recentemente publicou orientações para preservar o bem-estar durante a pandemia.
Por provocarem um pânico generalizado na população, principalmente quando não há conhecimentos gerais sobre as doenças fora de controle, caso da Covid-19, pandemias geram estresse e ansiedade.
Atenta aos reports, a Conquer, escola de negócios da nova economia, enxergou uma oportunidade ― não de lucrar, e sim de contribuir. “No início da crise, fomos pesquisar para ver como a China estava lidando com a situação. Por meio de algumas pesquisas de consultorias, vimos que, para 46% das empresas de lá, lidar com o estresse psicológico dos colaboradores foi o principal desafio ligado ao surto do novo coronavírus. Por essa razão, tomamos a decisão de liberar, de forma gratuita, um dos nossos cursos mais procurados e vendidos, o de Inteligência Emocional”, me explica.
Hendel Favarin, cofundador da Conquer, hoje presente com oito unidades em seis cidades.
Foram mais 500 mil alunos, de 80 países, matriculados em apenas três semanas.
A Conquer também pivotou seu modelo de negócio, transformando todos os cursos, em apenas 72h, para a modalidade online ao vivo (na ocasião, 140 turmas e mais de 1.500 alunos, amparados por 140 colaboradores internos e mais de 300 professores).
Os planos da escola eram lançar cursos 100% online, “mas jamais em 2020”, me ilustra Hendel Favarin: “Com certeza, a crise acelerou muitos projetos nossos que estavam guardados, e o do EAD é um deles”.
Com o curso baixado por meio milhão, indago se valeu a pena libera-lo sem custo algum?
“Com certeza! A nossa missão é muito maior do que qualquer desafio ou crise.”
Está dito.
*Marc Tawil é empreendedor e estrategista de comunicação. É head da Tawil Comunicação, Nº 1 LinkedIn Brasil Top Voices & Live Broadcaster e apresentador do podcast Autoperformance, na Rádio Jovem Pan. É também autor de HarperCollins Brasil, editora pela qual publica, em 2020, o livro “Seja Sua Própria Marca”