Depois da pandemia, não seremos mais os mesmos
Por
Flavio Tavares
[10/04/2020] [07:00]
“A mudança está em cada um”
Há um misto de dúvidas, medos, ansiedades e incertezas nos dias em que estamos vivendo. Não me lembro de, em minha vida, ter passado um período tão pouco previsível como este. Não esperávamos que algo assim acontecesse, não nos preparamos para isso, e pouco sabemos sobre o que está por vir. Mas o que que quero falar para você é que existem algumas mudanças muito relevantes acontecendo. Podia citar várias por aqui, mas tem duas coisas que me impressionam demais nessa pandemia.
A primeira é exatamente a imprevisibilidade dela. Por mais que já houvesse alertas e até exemplos do que vivemos hoje acontecendo na China e depois aos poucos se espalhando pelo mundo, ninguém previu ou planejou que isso pudesse acontecer. A impressão que me dá é que muitos países se sentiam imunes e protegidos contra esse vírus. Mas infelizmente não estávamos – nenhuma nação e nenhum povo.
Vivemos em um mundo globalizado do ponto de vista econômico, mas do social e ambiental ainda estamos engatinhando. Essa pandemia mostrou o quão frágil ainda somos enquanto sociedade globalizada e o quanto falhamos na previsão de acontecimentos como esse.
A segunda coisa que mais me impressiona é a carência de líderes regionais e globais que consigam, em um momento como esse, ser um farol na escuridão. Vemos um momento de discussões político-partidárias, ideológicas e egocêntricas em várias frentes. Temos olhado em uma proporção absurda para o que nos separa e esquecemos de perceber o que nos une. Temos uma carência grande de líderes que nos unem no mesmo propósito, estamos cada vez mais divididos por uma rede social que destila raiva, acentua bolhas e destaca defesas míopes e pequenas de todos os lados. Falta um olhar mais humano. Ganhar uma disputa ou discussão não deveria estar acima de salvar vidas.
Acredito que esses são os dois pontos que merecem mais nossa atenção quando a pandemia passar.
Precisamos planejar mais nossas cidades, estados e países baseados na preservação da vida. Com a mesma atenção e prioridade em que investimos um valor absurdo anualmente para o exército, a aeronáutica e a marinha, com o intuito prepará-los para uma guerra que não acontece há muito tempo: precisamos investir no exército da vida.
Walter Longo fez uma ótima defesa desse ponto em uma conversa que tivemos. Talvez seja a hora de destinarmos uma parte do PIB para esse grande exército, que seria formado por médicos, cientistas, psicólogos e profissionais que preservam aquele que é o bem mais importante da humanidade. Para que, em momentos como esse de pandemia, já estejamos prontos pra ela.
E devemos desaprender sobre o conceito de liderança que temos tido como referência e exemplo. Precisamos nos abrir para uma nova geração de líderes, mais humanos, mais altruístas, mais abertos a olhar para o todo do que para uma parte. Líderes que colocam seu coração no que fazem e conseguem um equilíbrio entre seus resultados e o seu legado, entre sua performance e sua sensibilidade, entre sua produtividade e sua criatividade, entre sua força e sua vulnerabilidade, entre sua capacidade e sua humanidade.
Talvez esta frase do Simon Sinek nunca tenha feito tanto sentido como nos dias atuais: “Grandes líderes sacrificam números para salvar pessoas. Líderes medíocres sacrificam pessoas para salvar números”. Mais do que nunca, precisamos de líderes que se reinventem no momento de crise para salvar pessoas.
Em uma conversa com o Ruy Shiozawa, CEO do GPTW, que ajuda a escolher os melhores lugares para se trabalhar no mundo, ele me disse algo interessante: “Será que, ao invés de demitir funcionários, não seria a hora de grandes empresas abrirem mão de suas sedes faraônicas que possuem um custo absurdo?”.
Muitas coisas estão sendo provadas nesse grande laboratório planetário e uma delas é que o modelo convencional de trabalho deve urgentemente ser reinventado. Nesses últimos dias, temos tido uma boa prova de que isso é possível.
E você? Tem desejado que tudo volte ao normal? Olha, sinto informar, mas nunca mais voltaremos ao normal, pelo menos não a esse normal que temos como referência. O mundo, a sociedade, as empresas, as famílias e nós, como indivíduos, nunca mais seremos os mesmos. Há vários movimentos de mudança do futuro acontecendo agora, e gostaria muito de poder compartilhar de vários deles com você, mas vou deixar para novos artigos.
O que posso afirmar é que a maior mudança que podia acontecer neste exato momento é essa que está rolando aí, dentro de você. Esse encontro precioso entre você e a sua essência, entre seu propósito e sua missão. É essa junção que fará com que o mundo nunca mais seja o mesmo, porque todos nós não seremos mais.